Cultura de Teletrabalho em Portugal

O que é, e quais os principais benefícios?

Em traços gerais, o teletrabalho consiste no trabalho realizado remotamente, recorrendo a tecnologias de informação e de comunicação.

Esta forma de trabalho permite, em teoria, para o colaborador:

1- Alguma flexibilidade de horário na execução das tarefas e gestão de vida pessoal;

2- Liberdade e autonomia de trabalho, que pode ajudar na produtividade e gestão de tempo;

Para a entidade empregadora:

1 – Maior agilidade na realização dos trabalhos que têm de ser executados;

2- Possibilidade de flexibilidade no que respeita aos horários de trabalho.

Por assim ser, a prática do teletrabalho pode ser bastante benéfica, para ambas as partes. Com efeito, se por um lado o colaborador pode beneficiar de um horário mais flexível que lhe permite enquadrar melhor a sua vida familiar ao longo do dia e, consequentemente, aumentar a sua estabilidade emocional, por outro lado, a entidade empregadora poderá poupar nos custos associados ao posto de trabalho físico do mesmo, apostando, por exemplo, em postos rotativos entre colaboradores, isto sempre que a presença física do trabalhador seja imprescindível à prossecução dos objetivos da empresa, com a vantagem acrescida de poder captar talentos em qualquer parte do mundo.


Mas o teletrabalho só tem benefícios?

Para se trabalhar em regime de teletrabalho, é preciso ter um elevado sentido de responsabilidade, dado que as solicitações externas serão necessariamente maiores e, por conseguinte, facilitadoras do absentismo ao trabalho propriamente dito.

Por norma, também existem questões culturais de resistência à mudança de paradigma, de trabalho presencial para um regime de teletrabalho.

Quantos de nós não ouvimos já de colegas de trabalho frases similares a esta:

- Vais trabalhar de casa? Então boas férias!

Na realidade trabalhar em regime de teletrabalho pode ser tanto ou mais stressante do que trabalhar no posto de trabalho físico.

Esta afirmação parece ser um paradoxo, quando já se referiu que o principal benefício para o colaborador é poder ter uma maior estabilidade emocional e um maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

Debrucemo-nos, muito sucintamente, sobre o que não é visível (ou não interessa) aos olhos dos nossos colegas que não se encontram em regime de teletrabalho, ou até mesmo, aos olhos de nossas chefias:

1 – Em geral, a jornada de trabalho poderá ser mais longa, com grande probabilidade de se prolongar para além do horário normal de trabalho, acontecendo, quiçá, que muitas vezes as refeições são tomadas em frente aos dispositivos de trabalho, para poupar tempo;

2 – Surge a inevitável necessidade de coordenar eficazmente a interação entre a vida profissional e a pessoal, porquanto se tem de dar atenção á vida familiar, gerir conflitos, resolver problemas, prestar atenção aos filhos, planear e fazer refeições, entre tantas outras coisas;

3 - A não existência de uma ligação fisica com a empresa, colegas e chefias, propicia um aumento de solicitações, talvez por falta de habituação a este regime de trabalho.

Já no caso da entidade empregadora em geral, a postura cultural das chefias em Portugal, ainda é muitas vezes:

- Estás em casa tens de trabalhar mais e melhor porque, afinal, tens todo o dia para trabalhar dado que não te tens que deslocar ao escritório. Esta postura talvez resulte do facto de sentirem que o controlo sobre o trabalho que está a ser realizado é menor, de uma maior existência de dúvidas frequentes relativamente à informação prestada, podendo gerar desentendimentos e discussões mais frequentes, pelo que a comunicação à distância tem de ser, ainda, muito bem trabalhada.


Estará a nossa sociedade preparada para o teletrabalho?

Se analisarmos esta questão, verificamos que o teletrabalho já existe de alguma forma há muitos anos, nomeadamente nos países nórdicos, onde até é uma prática mais comum do que se possa supor. No nosso País, é uma cultura de trabalho que tem vindo a dar pequenos passos e se encontra, ainda, muito ligada a projetos para clientes estrangeiros, numa lógica de trabalho de cá para lá, mas sempre nas instalações da nossa entidade empregadora.

A grande mudança de paradigma, no meu entender, dá-se de forma forçada, precisamente com o início da pandemia mundial de Covid-19, que nos obrigou, literalmente, a seguir a regra: sempre que for possível, trabalhar de casa.

Então, é esse o regime de trabalho a seguir!

Mas, na realidade, não sei se estávamos verdadeiramente preparados para isso.

Em termos logísticos, as coisas correram razoavelmente bem.

Tanto que assim é, que foi mais ou menos fácil colocar meio país em regime de teletrabalho.

Do ponto de vista cultural, sinceramente, no tempo que dista de março até ao dia de hoje, já ouvi tantas histórias e relatos que tudo me indica que ainda não estamos verdadeiramente preparados para este tipo de trabalho que, pelo menos em teoria, acabaria por ser benéfico para todos a médio prazo, pois aparenta que grande parte das chefias têm medo de perder o controlo sobre os colaboradores pelo simples facto de não os poderem “controlar” visualmente.

Afinal é toda uma cultura e, forma de trabalho, diferente da habitual.

Uma realidade que parece sobressair, é que uma condição essencial para que esta mudança de paradigma possa realmente acontecer, será a existência de uma relação de confiança mútua entre o colaborador e a entidade empregadora.

Agora uma coisa é certa, o teletrabalho parece ter vindo para ficar, pelo que, com toda a certeza, vamos todos ter de nos adaptar a esta nova realidade, nos próximos anos, não vos parece?




Ricardo Castelo Branco

Data WareHouse Architect & Project Manager